Viajando pela Nicarágua

segunda-feira, 7 de maio de 2007

A fronteira da Nicarágua, aberta das 6h às 20h, era a mais apresentável até agora. Saímos pela cidade de Sapoá (Costa Rica) e entramos por Penãs Blancas (Nicarágua), no ônibus que pegamos em Libéria (havíamos saído de Tamarindo, na Costa Rica, sentido Granada). A passagem de ônibus custa U$ 27, com ar condicionado. Apenas descemos, deram-nos um tíquete que era a nossa entrada no país e voltamos ao ônibus para atravessar a fronteira. Só que não adiantou muito. Todos tiveram que retirar a bagagem, para ser aberta e inspecionada. Na nossa vez, o guarda mal nos olhou e mandou levar tudo de volta para o ônibus, sem abrir nada. Perdemos tempo à toa.

Na fronteira, vendiam-se “quentinhas”. Não podemos garantir se as condições de preparo são satisfatórias, mas com certeza são baratas porque quase todos os nativos a consomem. Nós éramos os únicos turistas no ônibus.
Aliás, em toda a viagem só encontramos brasileiros no aeroporto do Panamá, indo para Cuba.

Granada

Chegamos finalmente a Granada, cidade colonial fundada no século XVI, por Francisco Fernandez de Córdoba. A primeira impressão não foi boa, pois ao descermos do ônibus e tentarmos pegar um táxi para o hotel, os taxistas foram bastante desrespeitosos. O primeiro cobrou 20 córdobas e, como tínhamos acabado de chegar, só estávamos com dólar. Não tínhamos a moeda local. Na conversão, U$ 1 seriam, aproximadamente, 18 córdobas. Pechinchamos para que cobrasse este valor. O taxista poderia apenas ter negado, mas fechou a porta com raiva, xingou e partiu, e assim foi com mais dois taxistas. Só o quarto taxista que parou fez a viagem por 1 dólar, sem reclamar.

Parques, igrejas e casas com quintais e jardins floridos em seus interiores são marca registrada da cidade. Ficamos no
Hostal Dorado
(U$ 20 a diária). Os quartos são todos de madeira, com um grande jardim no centro e repleto de redes. O café negro (cafezinho) era livre. Aprovamos o hotel.

Fomos almoçar. Estávamos mortos de fome. Já eram 14h. Optamos por um restaurante que ficava próximo. Comemos frango (pechuga – peito de frango), arroz e salada.
Iniciamos o passeio pelo Parque Central e pela Catedral que estão no centro da cidade. Em volta do parque, há o Palácio Episcopal; a Plaza de la Independencia, onde no centro há um obelisco monumental dedicado aos heróis de 1821 mortos na guerra da independência; a Casa deLos Leones, com esculturas de leões em sua entrada; o Palácio de Cultura Joaquín Cuadra Passos; e o Convento e Igreja de San Francisco (iniciado em 1585 e depois reconstruído em 1867, pois sofreu um incêndio). Perto do Parque Central, quatro quadras a oeste, há a Igreja de La Merced, a mais bonita de Granada. Foi concluída em 1539 e saqueada por piratas em 1655, tendo sido restaurada em 1862. Outra igreja é a de Guadalupe, construída originalmente para ser uma fortaleza.

Em volta do Parque Central, há charretes para passear. Os hotéis da cidade são muito bonitos e existe grande variedade de restaurantes, com diferentes tipos de comida; entre eles, os de gastronomia italiana.

O passeio foi bom, mas poderia ter sido melhor. Os nicaragüenses são bastante agressivos com turistas. Um deles chegou a nos dizer: “Morte aos gringos”, achando que fôssemos americanos. Talvez isso se justifique um pouco porque as relações entre os Estados Unidos e a Nicarágua pioraram em 1981, quando Ronald Reagan assumiu. Ele suspendeu toda a ajuda financeira ao país e, ainda, treinou homens em Honduras e Costa Rica para lutarem contra ativistas militares (sandinistas) da Nicarágua.

Também não achamos confortável andar pelas ruas de Granada. Os homens não respeitam as mulheres, mesmo acompanhadas. Mexem, assobiam, um horror!!! Tem um que até nos seguiu e tivemos que discutir com ele para que nos deixasse em paz.

Pensamos em ir fazer um tour pelos vulcões (entre eles, o
Mombacho
) que existem perto de Granada, contudo pelo tratamento que recebemos e pelos passeios serem longos demais, tendo que dormir ao pé do vulcão, desistimos e seguimos viagem, no dia seguinte, para León, outra cidade colonial.

Para León, pegamos uma van que passa por Manágua (capital da Nicarágua), considerada pelos turistas a mais inacessível capital da América Central. Com mais de um milhão de habitantes, o trânsito é caótico e a pobreza é grande. Na passagem, vimos muitas favelas e o
Lago da Nicarágua
, com 8.624 km². É o segundo maior lago da América Latina, pouco menor que o Lago Titicaca (fronteira Bolívia-Peru).

Até nessa saída de Granada, tivemos problema. O cobrador da primeira van que tentamos pegar recusou-se a amarrar nossas mochilas em cima da van ou, pelo menos, colocar duas delas na parte de trás do carro (eram 3 mochilas). Disse que teríamos que levá-las no colo. Nós nos recusamos e ele nos devolveu o dinheiro (1 dólar por cada um). Na próxima van (saem para a capital de 15 em 15 minutos), o tratamento foi mais educado. Guardaram nossa mochilas sem problemas.

De Manágua, tivemos que pegar outro veículo até León. As passagens são bem baratas.


León

Chegamos a León, cidade que foi capital da Nicarágua por cerca de dois séculos e, hoje, é a segunda maior cidade, centro das universidades e da vida cultural do país. A cidade está bastante descaracterizada para ser considerada uma cidade colonial.

Um grande furacão em 1998 arrasou a região. A reconstrução foi lenta, mas em 2003 a maioria das estradas e pontes já estava funcionando.

León foi fundada em 1524 por Francisco Fernandez de Córdoba. A 32 km da cidade, encontra-se o
vulcão Momotombo
.

O táxi cobra da rodoviária para o centro 20 córdobas. Pegamos um ônibus, que sai do lado da rodoviária, por poucos centavos. Descemos no centro e caminhamos à procura de um hotel. Fomos ao
Vía Vía (uma espécie de albergue). Foi o mais barato que vimos: custava U$ 3 por noite, mas o quarto era dividido com várias pessoas. Não havia “cuarto doble” (quarto para casal). Passamos em outro que estava sendo reformado, um outro caríssimo (U$ 40) e, por fim, ficamos na Casona Colonial
. A dona é muito simpática (suspeitamos que ela não fosse dali, talvez fosse descendente de espanhóis que vieram à procura de riquezas e acabou ficando). Pagamos U$ 20 pelo quarto, limpo, mas escuro, e sem água “caliente”.

Estávamos cansados, pois, do lugar que descemos do ônibus até achar o hotel, tínhamos caminhado com as mochilas nas costas por um bom tempo. Tomamos banho e saímos com o mapa obtido no hotel.

A
Catedral de León
é a maior da América Latina. Sua construção começou em 1747 e continuou por cerca de anos. Em um dos lados do altar, há a tumba de Rubén Darío (poeta nascido na Nicarágua e de grande influência na sua época). Na cidade, existe também um museu em homenagem à sua vida e trabalho. Há, ainda, a Galeria e o Mausoléu de Heróis e Mártires, pelos que morreram lutando durante a ditadura Somoza (derrubada em 1979).

Avistamos o
Colégio La Asunción, ao lado sul da catedral. Foi a primeira universidade de Teologia da Nicarágua; e o atraente Palácio Episcopal
. Outras igrejas de destaque são: Iglesia de La Recolección, Iglesia de El Calvario, ambas construídas no século XVIII; Iglesia de La Merced e Iglesia de San Juan.

A 1 km da Praça Central, está a
Igreja de San Juan Bautista de Subtiava, a mais antiga intacta igreja de León. Construída na primeira década do século XVIII, foi restaurada em 1990 com a ajuda espanhola. A poucas quadras dali, as ruínas da Igreja Vera Cruz
, do século XVI, destruída por um vulcão em 1835.

Um transporte curioso na cidade é um caminhão improvisado para levar pessoas. Na parte de trás, há uma lona que serve como teto e uns banquinhos na carroceria, usados como assento pelas pessoas.

Esqueceram de nós...

Almoçamos no Vía Vía (o hotel-albergue), que tem um restaurante com cardápio variado e comida saborosa. Enquanto preparavam nosso almoço, fomos a um mercado fazer compras. Depois do almoço, regressamos ao hotel. Sairíamos da cidade às 3h da manhã, rumo à Manágua e de lá para a fronteira com Honduras (Chinandega-Choluteca). Não tem como ir sem passar por Manágua.

Para sairmos da cidade no horário citado acima, fomos a uma agência Tica Bus, que faz viagens por toda a América Latina. É uma empresa grande. Compramos uma passagem mais cara: U$ 74 cada um, pelo transporte de van que nos pegaria no hotel às 3h e levaria-nos até Manágua, onde pegaríamos o ônibus da Tica Bus diretamente para Tegucigalpa, em Honduras. Tudo por um pouco mais de comodidade, depois de tanta “ralação”. Não dormimos quase nada, preocupados com o horário. Às 2h50, já estávamos fora do hotel. Não havia ninguém na rua. A dona do hotel deixou conosco a chave da entrada do estabelecimento. Depois, bastaria devolvê-la por debaixo da porta. Por precaução, ficamos com a chave. Ainda bem, pois a van não apareceu. Ficamos esperando quase duas horas.

Eu chorava de raiva, já tínhamos pago todo o transporte e, além do mais, o nosso tempo era curto, não podíamos atrasar a viagem. Voltamos para dentro do hotel, tomamos café no quarto com alimentos que havíamos comprado no dia anterior, já que, como íamos sair de madrugada, dispensamos o café da manhã do hotel. Esperamos até às 8h para ir à agência saber o que tinha acontecido e, é claro, pegar o dinheiro de volta. Ao chegarmos, ainda estava fechada. Fomos a uma internet próxima para passar o tempo. Lá, informaram-nos que a loja abria às 8h30. Ao entrarmos, encontramos o rapaz que havia nos vendido os bilhetes e para quem eu havia perguntado e confirmado, várias vezes, se a van nos pegaria no hotel às 3h em ponto. Ele assustou-se ao nos ver. Contamos que ninguém tinha passado e ele não sabia o que responder. Conversou com outra moça que trabalhava na loja, que ligou para o chefe. Eu estava furiosa, expliquei que já tínhamos pago nossa reserva de hotel em Honduras (o que não era verdade), mas precisávamos pressionar para resolver a situação. Dissemos que não sairíamos sem ter o dinheiro de volta. Quando o chefe chegou (esperamos por mais de 30 minutos), falou que houve um problema mecânico no carro. Foi o fim! Ninguém poderia ter nos avisado??? Achamos que ele estava inventando essa desculpa, o que também não faria diferença. Só queríamos o dinheiro de volta e sair daquele lugar. Em seguida, perguntou em que hotel estávamos para oferecer a diária de uma noite e, assim, partirmos no dia seguinte. Já sabíamos que ele ia propor isso, mas nós queríamos deixar a cidade naquele instante. Dissemos que não abriríamos mão do dinheiro, que aquilo era uma falta total de respeito, que não dormimos e que ficamos esperando no meio da rua, correndo risco de sermos assaltados, pois era de madrugada. Por fim, devolveu-nos todo o valor das passagens e saímos correndo rumo ao hotel para buscar nossas malas, já prontas. Pegamos um táxi coletivo (muito comum em toda a América Central) – mais pessoas em um mesmo táxi para pagar menos – e fomos até o terminal de onde partem as vans para Manágua.

Na fronteira com Honduras

Chegando no terminal da capital, pegamos outra van para chegar a Chinandega (última cidade da Nicarágua), que faz fronteira com Guasaule (Honduras). No caminho, passamos pelo vulcão San Cristóban (inativo). Deu para tirar algumas fotos da estrada, de dentro do veículo.

As fronteiras são sempre confusas, mas a de Honduras foi a pior. Primeiro, o Ricardo foi interrogado pelo funcionário da fronteira nicaraguense antes de entrarmos em Honduras (as fronteiras trabalham em cooperação, uma ao lado da outra, somente um balcão as separa). Foi hilário: nós tentando sair da Nicarágua de qualquer jeito e o funcionário querendo impedir: um militar boçal que trabalha na fronteira. Fez um monte de perguntas inúteis, questionando até o nosso visto para o México, que foi obtido na Embaixada em Brasília, antes de viajarmos. Comecei a achar que ele ia pedir dinheiro. Depois de finalmente liberados, fomos para o atendimento da fronteira hondurense. Pagamos para sair da Nicarágua (U$ 6 para nós dois) e para entrar em Honduras (U$ 8). Essas taxas são absurdas!!!!

Para atravessar a ponte que separa Chinangeda de Guasaule tivemos que utilizar o transporte local – um triciclo. A bicicleta com lugar na garupa é adaptada para levar duas pessoas e mais as mochilas. Ao descermos da van, vários “motoristas” deste triciclo abordaram-nos. Foi uma confusão. O motorista da van nos alertou que o valor cobrado (20 córdobas) é para as duas pessoas e não para cada uma, como alguns mais espertos querem cobrar. O que escolhemos para nos levar parecia simpático. A subida da ponte é difícil e oferecemo-nos para descer, mas ele não aceitou. Disse que podíamos ficar que ele aguentaria o peso. Até veio um outro rapaz ajudar. Como havia 5 córdobas sobrando e não íamos mais utilizar esse dinheiro, pois estávamos entrando em outro país, decidimos dar a ele de gorjeta. Ao entregar o dinheiro, ele disse: “propina, mais propina” (palavra equivalente à nossa gorjeta). Nós já estávamos dando a mais e ele achou ruim. Se acha o preço injusto, por que não cobra um valor mais alto pelo serviço?
Enfim, passamos raiva na saída da Nicarágua até o último instante. As duas cidades nicaragueneses vendidas como pontos turísticos – Granada e León – são pouco atrativas. Se o turista tiver pouco tempo de viagem, pode dispensá-las.

Visto

Brasileiros não precisam de visto prévio.

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